sábado, 2 de outubro de 2010

Robert Schumann's Carnaval, performed by Evgeni Kissin



Tive o privilégio de ouvir pela primeira vez no grande auditório da Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - no âmbito do Festival Mozart - o genial, o brilhante, o maravilhoso e o  majestoso pianista russo Evgeni Kissin.
Ouvi-lo foi simplesmente apaixonante! Adorei, mesmo!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Der Himmel Über Berlin


A criança, quando criança,
caminhava de braços caídos,
queria que o ribeiro fosse um rio,
o rio uma torrente e este charco, o mar.
A criança, quando criança,
não sabia que era criança,
tudo para ela tinha alma
e todas as almas eram uma só.
A criança, quando criança,
não tinha opinião sobre nada,
não tinha hábitos,
sentava-se de pernas cruzadas,
de repente desatava a correr,
tinha um remoinho no cabelo
e não fazia caretas
quando era fotografada.



sexta-feira, 2 de julho de 2010

Extrato interessante do livro que estou a ler

Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas. Li quase tudo quanto os nossos historiadores, os nossos poetas e mesmo os nossos narradores escreveram, apesar de estes últimos serem considerados frívolos, e devo-lhes talvez mais informações do que as que recebi das situações bastante variadas da minha própria vida. A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros.


Mas estes mentem, mesmo os mais sinceros. Os menos hábeis, por falta de palavras e de frases onde possam abrangê-la, traçam da vida uma imagem trivial e pobre; alguns, como Lucano, tornam-na mais pesada e obstruída com uma solenidade que ela não tem. Outros, pelo contrário, como Petrónio, aligeiram-na, fazem dela uma bola saltitante e vazia, fácil de receber e de atirar num universo sem peso. Os poetas transportam-nos a um mundo mais vasto ou mais belo, mais ardente ou mais doce que este que nos é dado, por isso mesmo diferente e praticamente quase inabitável. Os filósofos, para poderem estudar a realidade pura, submetem-na quase às mesmas transformações a que o fogo ou o pilão submetem os corpos: coisa alguma de um ser ou de um facto, tal como nós o conhecemos, parece subsistir nesses cristais ou nessas cinzas. Os historiadores apresentam-nos, do passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. Os narradores, os autores de fábulas milésias, não fazem mais, como os carniceiros, que pendurar no açougue pequenos bocados de carne apreciados pelas moscas. Adaptar-me-ia muito mal a um mundo sem livros; mas a realidade não está lá, porque eles a não contêm inteira.

in "Memórias de Adriano" por Marguerite Yourcenar

quinta-feira, 24 de junho de 2010


Escrita por Ary dos Santos no final de 1972. Música e interpretação de Fernando Tordo. Concorreu ao Festival da RTP de 1973 onde obteve o 1º lugar.

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.
Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.
Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.
Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...
Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro aos milhões.
E diz o inteligente
que acabaram as canções.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

«Começamos a ser o que somos no dia em que nascemos» in José Saramago

 Paz à sua alma!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Louise Bourgeois (Paris, 25 de Dezembro 1911 - Nova Iorque, 31 de Maio de 2010)

Soube agora, através do Centre Pompidou que a artista plástica franco-americana Louise Bourgeois (autora da aranha "Maman") faleceu esta segunda-feira em Nova Iorque, com 98 anos de idade. Paz à sua alma!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ma Cos'è Questa Crisi?



Ora aqui está uma canção muito actual.
Há canções que têm uma magia inerente que nos faz amá-las apaixonadamente logo na primeira audição.
Esta música datada de 1933  trouxe boa sorte ao seu autor e intérprete, Rodolfo de Angelis, também conhecido como um actor, pintor e poeta.
Nestes tempos de incerteza económica extrema e cheia de sinistras perspectivas políticas parece que esta canção "mas que esta crise?" encaixa na perfeição.
 
post scriptum: "Qualquer coincidência é pura semelhança!"

terça-feira, 18 de maio de 2010

Malena (Monica Bellucci) - Ma l'amore no

Ao recordar o filme "Cinema Paraíso" veio-me à memória, um outro, o "Malena" também de Giuseppe Tornatore e, também lindíssimo.

Música "Ma l'amore no": Lina Termini

Sinopse:
Em 1941, em plena II Guerra Mundial, nada acontece na sossegada vila da costa siciliana Castelcuto. Ali vive Renato (Giuseppe Sulfaro), um rapaz de 13 anos que de repente tem sua vida transformada radicalmente por uma descoberta que irá marcá-lo para sempre ... Malena (Monica Bellucci). Com sua beleza avassaladora, Malena é a mais irresistível atracção da pacata vila. Recém chegada no local e sem o marido, cada passeio seu se transforma num espectáculo à parte, que desperta os olhares de cobiça dos homens e os invejosos comentários de suas esposas. Entre seus admiradores está Renato, que transforma o seu desejo numa poderosa fantasia. Por Malena, ele aprende lições de vida e vai a lugares que nunca imaginou.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ennio Morricone

Muito me alegrou a notícia que li hoje no Público em que Ennio Morricone, compositor italiano foi distinguido com o Prémio Polar, considerado o Nobel na área da música.
Muitos Parabéns!

Quem não se recorda do  lindíssimo - e meu favorito - filme "Cinema Paraíso" (1988), de Giuseppe Tornatore?



Para aguçar a vontade de quem não viu o filme, fica aqui, um "piccolo" trecho:

Icniv ad odranoel

Odranoel ad icniv (51 ed lirba ed 2541 – esiobma, 2 ed oiam ed 9151) iof mu atamílop onailati, amu ads sarugif siam setnatropmi od Otla Otnemicsaner, euq es uocatsed omoc.
Atsitneic, ocitámetam, orienhegng, rotnevni, atsimotana, rotnip, rotlucra, otetiuqra, ocinâtob, ateop e ocisúm.
Odranoel iavercse mébmat ad  atieerid arap a a dreueqse, odnes sanepa levíssop a arutiel sod sues sotxet me etnerf a mu ohlepse.

Omissírac, euq es otua alutini ed Leugim Olegnâ,
Osac oân abias, aisircopih é o otca ed irgnif ret saçnerc, sedutriv, saiedi e sotnemitnes que a aossep na edadrev oân iussop.
Odnitrap od oipícnirp que oãn em ecehnoc, oãn ares odatipicerp, em-ragluj atircópih? ecehnoC sa sahnim saçnerc, sedutriv, saiedi e sotnemitnes? Oãn em ecerap! Ahnet otnet!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ophelia de John Everett Millais (1852)


Ophelia é um dos trabalhos mais populares dos Pré-Rafaelistas. A imagem de Millais, da morte trágica de Ophelia, após cair no rio e se afogar, é uma das ilustrações mais conhecidas da peça Hamlet, de Shakespeare.
Serviu de modelo para Ofélia, Elizabeth Siddal (1829-1862) poeta, pintora e musa da Irmandade dos Pré-Rafaelistas.
A pintura está repleta de simbolismo: o salgueiro representa amor sem esperança, as urtigas a dor, as margaridas perto da sua mão a inocência, as violetas no pescoço a fidelidade, a castidade e a morte precoce, a papoilla a morte, as outras flores estão relacionadas com a tristeza e o miosótis na margem para que não seja esquecida…
Ophelia serviu também de fonte de  inspiração para o  video clip “Where the Wild Roses Bloom” de Nick Cave e  Kylie Minogue.

terça-feira, 11 de maio de 2010

"Caritas in veritate"

O título deste post "Caritas in veritate" traduz-se na última encíclica (documento pontifício dirigido aos bispos de todo o mundo, e, por meio deles, a todos os fiéis) escrita pelo sumo pontífice Bento XVI, sobre o desenvolvimento humano na caridade e na verdade.

Em todo o documento, Sua Excelência, o Papa Bento XVI, utiliza frequentemente palavras como: caridade, justiça e bem comum.
A visita de Bento XVI a Portugal, ajudar-nos-á à reflexão?
Que se passa connosco?!
Em todo o percurso que fiz hoje pela manhã apenas ouvia palavras de desagrado, de mediocridade, de ignorância. É certo que considerava Sua Santidade João Paulo II um ser mais carismático, mais simpático, mas custa-me ouvir certos comentários. Considero-me agnóstica mas não me imagino proferir certas palavras que certos seres utilizam. Apenas gosto de me questionar.
Será que as pessoas já não se questionam?
Ontem em todos os canais nacionais, sentia-se uma euforia, apenas porque um clube de futebol tinha ganho um qualquer título.
Que foi feito da Caridade, da bondade, do respeito?! Que se passa connosco?! Seremos assim tão ignorantes?!
Sinceramente, sinto-me envergonhada!

sábado, 8 de maio de 2010

Albert Einstein: Deus e o mal



Deus existe! por Albert Einstein
Convite à reflexão sobre os nossos paradigmas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

170º aniversário de Tchaikovsky

Comemora-se hoje o 170º aniversário do grande Tchaikovsky (1840-1893).

Tchaikovsky foi o primeiro compositor russo a dar a conhecer o seu trabalho ao público dos países estrangeiros. Os laços fortes com a Europa e os Estados Unidos da América era algo incomum para os russos.

Das suas obras destacam-se os bailados “O Lago dos Cisnes”, “A Bela Adormecida” e “O Quebra-Nozes"(vídeo abaixo)”, a ópera “Eugénio Oneguine”, as 4ª, 5ª e 6ª sinfonias, o Concerto nº 1 para Piano e o Concerto para Violino.

Faleceu a 6 de Novembro de 1893 e foi sepultado num dos cemitérios do Mosteiro de Alexander Nevsky (onde estão enterrados Fiódor DostoiévskiArthur Rubinstein, entre outros).


E Lucevan Le Stelle



Lindíssima ária da ópera Tosca (Act III) de Puccini. Cantada pelo mais célebre casal da ópera contemporânea, a soprano Angela Gheorghiu e o tenor Roberto Alagna. Por saber que a adoras, dedico-ta meu amor.

E lucevan le stelle

ed olezzava la terra.
Stridea l'uscio dell'orto
e un passo sfiorava la rena.
Entrava ella fragrante
mi cadea fra le braccia.

Oh dolci baci, o languide carezze,
mentr'io fremente
le belle forme
disciogliea dai veli.
Svani per sempre
il sogno mio d'amore.

L'ora é fuggita
e muoio disperato,
e muoio disperato.
E non ho amato
mai tanto la vita.
Tanto la vita!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Rach 3 - Rachmaninov por David Helfgott



Após uma longa semana de muito trabalho e stress nada como iniciar o fim-de-semana com um bom filme. A escolha foi "Shine - simplesmente genial". O filme retrata a vida do pianista David Helfgott interpretado pelo excelente actor Geoffrey Rush. A cena no filme que mais me impressionou foi quando Helfgott tocou Rach n.º 3 de Rachmaninoff (um dos pianistas mais influentes do Século XX) e, foi de facto genial.

L'opéra imaginaire - Lakmé



Com votos de um excelente fim-de-semana, deixo-vos aqui a minha ária favorita, Dueto das flores, da ópera Lakmé, do compositor francês Clément Philibert Léo Delibes(21 February 1836 – 16 January 1891).

quarta-feira, 28 de abril de 2010



Um homem é dotado de livre arbítrio e de três maneiras: em primeiro lugar, era livre quando quis esta vida; agora não pode evidentemente rescindi-la, pois ele não é o que a queria outrora, excepto na medida em que completa a sua vontade de outrora, vivendo.
Em segundo lugar, é livre pelo facto de poder escolher o caminho desta vida e a maneira de o percorrer.
Em terceiro lugar, é livre pelo facto de na qualidade daquele que vier a ser de novo um dia, ter a vontade de se deixar ir custe o que custar através da vida e de chegar assim a ele próprio e isso por um caminho que pode sem dúvida escolher, mas que, em todo o caso, forma um labirinto tão complicado que toca nos menores recantos desta vida.
São esses os três aspectos do livre arbítrio que, por se oferecerem todos ao mesmo tempo formam apenas um e de tal modo que não há lugar para um arbítrio, quer seja livre ou servo.

Franz Kafka, in "Meditações"


Para a realidade humana, ser é escolher-se: nada lhe vem de fora, nem tão-pouco de dentro, que possa receber ou aceitar. Está inteiramente abandonada, sem auxílio de nenhuma espécie, à insustentável necessidade de se fazer ser até ao mais ínfimo pormenor. Assim, a liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer, o seu nada de ser. (...) O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e sempre livre, ou não é.

Jean-Paul Sartre, in 'O Ser e o Nada'

sexta-feira, 16 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

segunda-feira, 29 de março de 2010

Morning Bird




Oiço-te e fazes-me acreditar que a melodia do amor não é utopia,
Desce dos vales do teu riso um beijo e beijo-te demoradamente
A tua boca sabe-me a música e saboreio a melodia expulsando do grande baú o medo.
Beijas-me bem!
Beijos melódicos que sonhei para a minha boca.

quarta-feira, 24 de março de 2010

"À Luz da Sombra" por Lourdes Castro



As sombras sempre me fascinaram, pelas suas projecções, pelo seu sentido metafórico, que muito depende da nossa imaginação. Fico sempre com a sensação que dizem mais do que o representado. Quererão dizer-nos algo?

Mas, quanto a este assunto, quem melhor que Lourdes Castro (artista madeirense, nascida em 1930), para nos mostrar as sombras e as suas possibilidades de materialização.
Para melhor conhecer o seu trabalho, porque não dar um salto ao Museu Serralves?! Eu fui e apreciei bastante!
Esta senhora é um doce, denota-se em todo o seu trabalho uma elevadíssima sensibilidade. Iniciei a exposição com uma gravação datada a 1971, tendo como música de fundo: "Suite n.º 3 para violoncelo de Bach.
Ouve-se, observa-se e fica-se com um sorriso nos lábios.
Fica aqui um pequeno excerto do que ouvi:

O que me atrai: a sombra não ocupar espaço e guardar a sua presença mesmo desligada do corpo que a projectou.”.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Trilogie de l'amour

Parfum exotique

Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaud d'automne,
Je respire l'odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu'éblouissent les feux d'un soleil monotone;

Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux;
Des hommes dont le corps est mince et vigoureux,
Et des femmes dont l'oeil par sa franchise étonne.

Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et de mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,

Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l'air et m'enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.

Charles Baudelaire


Ode à presença divinal

Ah, que indispensabilidade divinal
Em divino êxtase reveladora de extrema sensibilidade
Às horas deste cor.
Ó ser divinal que me faz flutuar,
como alma da vida,
esquecendo o efémero, vivendo o momento
tremulamente sobre as águas eternas.

Observo-te, escuto-te, leio-te, e desperto qualquer coisa.
O êxtase em mim levanta-se, cresce e avança,
Fazendo-me corar as faces.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Green God (o Verde Deus)

Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce

Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos.
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
a um ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.

Eugénio de Andrade
(1923-2005)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O vento

O vento soprou e roubou-me novamente o sorriso… vagueio pelas ruas sem saber por onde vou… aqui no misérrimo exílio, onde nem exilada estou, habito, fiel sem que queira à minha errância de tanto querer, pela qual sou proscrita. O erro de querer ser a tal folha de Outono, despida de mim… observando a vida, querendo ser igual a todas as outras folhas… que me caem constantemente… no curto tempo que é a mais longa vida…

domingo, 31 de janeiro de 2010

O meu poema favorito de Alexandre O'Neill

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.