sábado, 14 de março de 2009

Chuang Tzu

O objetivo de uma armadilha de peixes é "caçar" peixes; quando estes caem na armadilha, esta é esquecida.
O objetivo de uma armadilha para coelhos é "caçar" coelhos; quando estes são agarrados, esquece-se a armadilha.
O objetivo das palavras é transmitir as idéias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas.
Onde poderei encontrar alguém que se esqueceu das palavras? É com ele que gostaria de conversar.

quinta-feira, 5 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

sossega-me

sossega-me,...
como poderei eu partir? se te sinto em mim...
sinto-me a deambular, ... vagueando nos teus olhos, procuro-te
onde estás?...
vem,... para perto de mim
sossega-me,...
conto-te estórias ao ouvido, tu sorris...
que desassossego,
vagueio pelo teu corpo, ... sensações orgásmicas...
sossega-me nas madrugadas...
ai, ai, ai

"O coração, se pudesse pensar, pararia."


"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelida a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Translucidez, Nudez e Desacorde


Translucidez Lúcido como o fio de uma navalha
atravesso a rua no instante exato.
A vida em volta me atordoa.
Esta correria, este zumbido, este medo – é isto a vida?
Lúcido, me perco,reparto-me em calçadas, andares, repartições, sobrelojas,
me esqueço, deixo de ser-me: sou todos, nada.
Lúcido — como suportar?
A vida em volta me atordoa, me machuca, me mastiga, …


Otto Leopoldo Winck

terça-feira, 3 de março de 2009

fingir que está tudo bem

fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.

josé luís peixoto