segunda-feira, 29 de março de 2010

Morning Bird




Oiço-te e fazes-me acreditar que a melodia do amor não é utopia,
Desce dos vales do teu riso um beijo e beijo-te demoradamente
A tua boca sabe-me a música e saboreio a melodia expulsando do grande baú o medo.
Beijas-me bem!
Beijos melódicos que sonhei para a minha boca.

quarta-feira, 24 de março de 2010

"À Luz da Sombra" por Lourdes Castro



As sombras sempre me fascinaram, pelas suas projecções, pelo seu sentido metafórico, que muito depende da nossa imaginação. Fico sempre com a sensação que dizem mais do que o representado. Quererão dizer-nos algo?

Mas, quanto a este assunto, quem melhor que Lourdes Castro (artista madeirense, nascida em 1930), para nos mostrar as sombras e as suas possibilidades de materialização.
Para melhor conhecer o seu trabalho, porque não dar um salto ao Museu Serralves?! Eu fui e apreciei bastante!
Esta senhora é um doce, denota-se em todo o seu trabalho uma elevadíssima sensibilidade. Iniciei a exposição com uma gravação datada a 1971, tendo como música de fundo: "Suite n.º 3 para violoncelo de Bach.
Ouve-se, observa-se e fica-se com um sorriso nos lábios.
Fica aqui um pequeno excerto do que ouvi:

O que me atrai: a sombra não ocupar espaço e guardar a sua presença mesmo desligada do corpo que a projectou.”.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Trilogie de l'amour

Parfum exotique

Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaud d'automne,
Je respire l'odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu'éblouissent les feux d'un soleil monotone;

Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux;
Des hommes dont le corps est mince et vigoureux,
Et des femmes dont l'oeil par sa franchise étonne.

Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et de mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,

Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l'air et m'enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers.

Charles Baudelaire


Ode à presença divinal

Ah, que indispensabilidade divinal
Em divino êxtase reveladora de extrema sensibilidade
Às horas deste cor.
Ó ser divinal que me faz flutuar,
como alma da vida,
esquecendo o efémero, vivendo o momento
tremulamente sobre as águas eternas.

Observo-te, escuto-te, leio-te, e desperto qualquer coisa.
O êxtase em mim levanta-se, cresce e avança,
Fazendo-me corar as faces.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Green God (o Verde Deus)

Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce

Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos.
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
a um ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.

Eugénio de Andrade
(1923-2005)