domingo, 2 de dezembro de 2012



20 de dezembro de 2009

A ti, outrora “sem rosto”…
Com palavras me prendeste.
Apresentaste-me bela…
Beleza que me invade a alma…
Fazendo despertar qualquer poeta….


02 de dezembro de 2012
Três anos passados... e eis-nos,
Há horas que são filosofias, que nos sugerem interpretações da vida,
Cheias de magia, no livro do nosso destino universal…


sábado, 17 de novembro de 2012

"Destino" de Almeida Garret

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta — «Floresce!» —
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

domingo, 4 de novembro de 2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ode Marítima - Álvaro de Campos

Ode Marítima Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,

Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos de trás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh'alma está com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente,

Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue -
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui... (Incompleto)

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pessoa...

«Eu proprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas colleantes paginas fóra, realmente existe ou é apenas um conceito esthetico e falso que fiz de mim-proprio. Sim, é assim. Vivo-me estheticamente em outro. Esculpi a minha vida como a estatua de materia alheia a meu ser. Às vezes não me reconheço, tão exterior me puz a mim, e tão de modo puramente artistico empreguei a minha consciencia de mim proprio. Quem sou por detraz de esta irrealidade? Não sei. Devo ser alguem»

Fonte: Livro do Desasossego, II, 305, p.38. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natal com Arte: Um Alimento para a Alma

Virão certamente tempos ainda mais difíceis. Todos sabemos. Numa época em que os valores estão, também eles em crise,… deixando-nos a todos nauseados, sem esperança, sem pão…. Mais pobres certamente… mas há coisas que não nos podem tirar… são elas: a Alma, a Dignidade, o Sentimento, a Palavra – “riquezas” que por mais que tentem não se conseguem abolir.


E foi nesta linha de raciocínio que o "Pai Natal" Vollenweider atuou, com a sua perspicácia, inteligência e sensibilidade, presenteando-me com Alimento para a Alma.
 Já dizia a sábio e visionário Voltaire, “A alma é uma fogueira que convém alimentar, e que se apaga dado que não se aumente”

Muito obrigada pelo teu Amor, Apoio e por todo este Alimento (que bem vou precisar).

A Nova História da Arte de Janson - por H.W Janson (nona edição);












Man Ray - por Guido Comis, Marco Franciolli












Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português - por Fernando Cabral Martins












Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos - por Mário Cesariny









Pessoa Revisitado - por Eduardo  Lourenço


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Náusea

É então isto a Náusea, esta ofuscante evidência? As voltas que dei à cabeça. Tanto que escrevi acerca dela!Agora sei: existo - o mundo existe - e sei que o mundo existe. É tudo. Mas é-me indiferente. É estranho que tudo me seja indiferente: mete-me medo que assim seja. Foi a partir do célebre dia em que quis fazer ricochete com a pedra na água. Ia lançá-la, olhei para ela, e foi então que tudo começou: senti que a pedra existia. E depois, a partir de então, houve outras Náuseas; de vez em quando os objectos põem-se a existir na nossa mão (...)

Jean-Paul Sartre

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Hino ao Sol do Faraó Akhenaton

“Como é bela tua aurora no horizonte do céu,
Ó Aton vivo, iniciador da vida!
Quando te ergues no Oriente,
Enches o universo de tua beleza.

És belo, grande, brilhante, alto acima da terra,
Teus raios envolvem a terra e tudo que criaste.

És Rá e os tem todos cativos;

Uniste todos pelo teu amor
Embora estejas longe, teus raios estão sobre a terra;

Embora sejas alto, os rastros de teus passos são o dia.

Quando repousas no horizonte ocidental do céu,

A terra está na obscuridade como a morte;
As pessoas dormem em seus quartos,
Envolvem a cabeça,
Suas narinas param de funcionar,
Ninguém vê seu vizinho,
Tudo o que lhes está sob a cabeça pode ser roubado.

E não sentem.
Estão os leões saem de seu covil,
As serpentes picam...
O universo esta em silencio,
Aquele que o fez repousa no horizonte. (...)”

Do Livro de J.H. Breasted, THE DEVELOPMENT OF RELIGION AND THOUGHT IN ANCIENT EGYPT.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

sem título, 1933 - Versão experimental para a capa de "Photographs by Man Ray 1920-1934" com elementos surrealizantes

Coat-stand", 1920 - Man Ray

domingo, 9 de outubro de 2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011



"A música é ao mesmo tempo a mais maravilhosa e a mais viva de todas as artes - é a mais abstracta, a mais perfeita, a mais pura - e a mais sensual. Oiço com o meu corpo e é no meu corpo que se desperta o desejo em resposta ao entusiasmo e à emoção incorporado nesta música. É o «eu» físico que sente uma dor insuportável - e depois uma ânsia fátua - quando um mundo inteiro de melodia resplandece e depois cai como uma cascata na segunda parte do primeiro andamento - é carne e osso que morre um pouco cada vez que sou engolida por este anseio do segundo andamento"

Susan Sontag - Renascer

sábado, 2 de outubro de 2010

Robert Schumann's Carnaval, performed by Evgeni Kissin



Tive o privilégio de ouvir pela primeira vez no grande auditório da Fundação e Museu Calouste Gulbenkian - no âmbito do Festival Mozart - o genial, o brilhante, o maravilhoso e o  majestoso pianista russo Evgeni Kissin.
Ouvi-lo foi simplesmente apaixonante! Adorei, mesmo!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Der Himmel Über Berlin


A criança, quando criança,
caminhava de braços caídos,
queria que o ribeiro fosse um rio,
o rio uma torrente e este charco, o mar.
A criança, quando criança,
não sabia que era criança,
tudo para ela tinha alma
e todas as almas eram uma só.
A criança, quando criança,
não tinha opinião sobre nada,
não tinha hábitos,
sentava-se de pernas cruzadas,
de repente desatava a correr,
tinha um remoinho no cabelo
e não fazia caretas
quando era fotografada.



sexta-feira, 2 de julho de 2010

Extrato interessante do livro que estou a ler

Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas. Li quase tudo quanto os nossos historiadores, os nossos poetas e mesmo os nossos narradores escreveram, apesar de estes últimos serem considerados frívolos, e devo-lhes talvez mais informações do que as que recebi das situações bastante variadas da minha própria vida. A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros.


Mas estes mentem, mesmo os mais sinceros. Os menos hábeis, por falta de palavras e de frases onde possam abrangê-la, traçam da vida uma imagem trivial e pobre; alguns, como Lucano, tornam-na mais pesada e obstruída com uma solenidade que ela não tem. Outros, pelo contrário, como Petrónio, aligeiram-na, fazem dela uma bola saltitante e vazia, fácil de receber e de atirar num universo sem peso. Os poetas transportam-nos a um mundo mais vasto ou mais belo, mais ardente ou mais doce que este que nos é dado, por isso mesmo diferente e praticamente quase inabitável. Os filósofos, para poderem estudar a realidade pura, submetem-na quase às mesmas transformações a que o fogo ou o pilão submetem os corpos: coisa alguma de um ser ou de um facto, tal como nós o conhecemos, parece subsistir nesses cristais ou nessas cinzas. Os historiadores apresentam-nos, do passado, sistemas excessivamente completos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros; dispõem de novo esta dócil matéria morta, e eu sei que Alexandre escapará sempre mesmo a Plutarco. Os narradores, os autores de fábulas milésias, não fazem mais, como os carniceiros, que pendurar no açougue pequenos bocados de carne apreciados pelas moscas. Adaptar-me-ia muito mal a um mundo sem livros; mas a realidade não está lá, porque eles a não contêm inteira.

in "Memórias de Adriano" por Marguerite Yourcenar

quinta-feira, 24 de junho de 2010


Escrita por Ary dos Santos no final de 1972. Música e interpretação de Fernando Tordo. Concorreu ao Festival da RTP de 1973 onde obteve o 1º lugar.

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.
Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.
Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.
Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.
Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...
Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro aos milhões.
E diz o inteligente
que acabaram as canções.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

«Começamos a ser o que somos no dia em que nascemos» in José Saramago

 Paz à sua alma!