quarta-feira, 7 de julho de 2010

Der Himmel Über Berlin


A criança, quando criança,
caminhava de braços caídos,
queria que o ribeiro fosse um rio,
o rio uma torrente e este charco, o mar.
A criança, quando criança,
não sabia que era criança,
tudo para ela tinha alma
e todas as almas eram uma só.
A criança, quando criança,
não tinha opinião sobre nada,
não tinha hábitos,
sentava-se de pernas cruzadas,
de repente desatava a correr,
tinha um remoinho no cabelo
e não fazia caretas
quando era fotografada.



2 comentários:

Seele disse...

Um filme transcendente cujo início augura uma obra de arte cinematográfica, que se confirma no término do mesmo.
Este poema lindíssimo transportou-me para um outro poema de Fernando Pessoa, «Aniversário»:
«… No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida…»

maria disse...

Interessante escolha de poema... denúncia continuidade de conversas soltas...
Aguardo pelas mesmas, ansiosamente!