quarta-feira, 17 de março de 2010

Green God (o Verde Deus)

Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce

Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos.
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
a um ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.

Eugénio de Andrade
(1923-2005)

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi algo verde que fez com que desaparecesse assim? Pareciam-me cinzentos e embora haja beleza presente não me parecia divinal.