quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Comemorando S. Valentim com côco


Vegetal e só

É outono, desprende-te de mim.
Solta-me os cabelos, potros indomáveis
Sem nenhuma melancolia,
Sem encontros marcados,
Sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito
O mais ardente dos meus braços,
O mais azul
O mais feito para voar.

Devolve-me o rosto de um verão
Sem a febre de tantos lábios,
Sem nenhum rumor de lágrimas
Nas pálperas acessas.

Deixa-me só, vegetal e só,
Correndo como rio de folhas
Para a noite onde a mais bela aventura
Se escreve exactamente sem nenhuma letra.

Eugénio de Andrade (1923 - 2005)

"As palavras Interditas", 1951

2 comentários:

Anónimo disse...

Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar, no vento.

Sophia de Mello Breyner "No Tempo Dividido e Mar Novo"

Anónimo disse...

As horas passam lentas...
Olho para o relógio e constato
Que os ponteiros indicam
O inicio de uma longa madrugada.

No momento deste assustador silêncio
o pensamento procura a tua presença
E transcende o tempo, neste devaneio.

Faço uma viagem, através da linha do horizonte!
Caminho pelas nuvens e visito a lua e as estrelas
Talvez, te possa encontrar e a saudade amenizar?

Sinto, que os meus lábios estão húmidos
Na ânsia de te beijar sem demora, no insano desejo
Da vontade de ti e quero-te muito neste beijo
Onde a volúpia cresce, na procura em murmúrios.

As horas passam e continuo desbravando o espaço
Estou sentindo imensamente a tua falta!
Preciso ver-te e também escutar as tuas palavras
Nas expressões amorosas, brandas e ousadas.

A madrugada termina e despede-se de mim
No belo e ensolarado dia que amanhece
Embora, não te encontrando, estive contigo!
Na dimensão do pensamento, mirado pelo devaneio!
Aninhei-me no calor do teu colo e senti o teu carinho.